Na Pandemia e na janela da Conectividade: A Favela Venceu!

Dois jovens, filhos de negros e pobres; que viveram suas infâncias e adolescências na favela, que caminhavam nos becos e ruas empunhando seu instrumento musical  como uma verdadeira arma: arma do saber, arma da possibilidade, arma da oportunidade, arma da referência e da superação!

Sim! Arma da referência e da superação!

Na sexta feira, dia 11 de setembro de 2020; os professores Cristine Ariel e Raminson dos Santos; se formaram em Licenciatura em Música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Que orgulho!

Orgulho sim! Porque a coragem de romper com os paradigmas que as crianças e adolescentes da favela, são fadados a serem marginais e bandidos; é um ato de resistência e coragem.

Esta violência simbólica: aniquila, segrega e é justificativa para as injustiças sociais.

Quando os negros e seus filhos enchiam as senzalas no período da escravidão, não era incômodo. Mas hoje, causa um grande incômodo ver os negros e seus filhos como atores de direitos e protagonistas das suas histórias.

Se preto ou Se pardo, a negritude deve ser assumida de modo a reverter todo o processo de discriminação e preconceitos.

Se não negro ou Se branco, as injustiças sociais devem ser combatidas porque a violência estrutural acomete à todos que tem um CEP que leva para uma área de risco, que não se tem acesso à serviços de qualidade e seus direitos são retirados.

Superar estas dificuldades é motivo de celebração!

Nestes dias de pandemia as dificuldades se aceleraram. Sim.

A busca pelo pão de cada dia, o cuidado para não adoecer, a perspectiva do futuro: O que vai ser? Como fazer? Quando será? Foram questões que colocaram em dúvida muitos processos da vida.

Mas nem a pandemia impediu que os sonhos se realizassem.

Cristine chega no projeto aos 8 anos de idade acompanhando a mãe e logo o seu coração se acendeu quando encontrou o violão.

Assim como o Raminson que numa apresentação da Escola de Música no teatro da Escola de Música da UFRJ se encantou ao ver um piano.

Encantamento é a palavra chave para a motivação e determinação.

Hoje, formados em licenciatura em Música pela UNIRIO; são exemplos Para as suas famílias, amigos e comunidade.

Na Pandemia e na janela da Conectividade:

 A Favela Venceu!

O sonho se realizou!

A vida prossegue!

A Esperança alimenta!

Parabéns professores!

Que a arte de ensinar e de compartilhar conhecimentos, seja o maior presente para todos nós.

A Favela é Força e Potência

Veja lá:

Com amor,

Elizabeth Campos

Coordenadora do Espaço Casa Viva/Redeccap

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A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E A PANDEMIA DO COVID 19

No campo onde constituímos nossa forma de ver o mundo existe uma dimensão simbólica. É nesse espaço em que a violência simbólica é estabelecida.

Mas o que é essa violência simbólica? E o que tem a ver com a pandemia da Covid 19?

Já lidamos com tantas violências no nosso dia a dia e agora mais essa. Já não basta essa pandemia que me fez perder o emprego, diminuiu a minha renda, preciso de cestas básicas para complementar a alimentação da minha família. Perdi um amigo ou um familiar para esta doença.  Você pode está se perguntando.   

Segundo Bourdieu, sociólogo francês, os seres humanos possuem quatro tipos de capitais, são eles:

1) o capital econômico, a renda financeira;

2) o capital social, suas redes de amizade e convívio;

 3) o cultural, aquele que é constituído pela educação, diplomas e envolvimento com a arte;

4) capital simbólico, que está ligado à honra, o prestígio e o reconhecimento.

É através desse último capital que determinadas diferenças de poder são definidas socialmente. Por meio do capital simbólico, é que instituições e indivíduos podem tentar persuadir outros com suas ideias.

 O conceito foi definido por Bourdieu como uma violência que é cometida com a cumplicidade entre quem sofre e quem a pratica, sem que, frequentemente, os envolvidos tenham consciência do que estão sofrendo ou exercendo.

Sabe por que?

Porque o mal já está tão naturalizado que não incomoda. Pensa-se ser da vida: “a vida é assim mesmo”, “o que pode ser feito”, “nasci para passar por isto”

Este pensamento ou esta prática segrega, restringe, nega o reconhecimento, a valorização do ser humano e sobre tudo nega os direitos.

Nos faz lembrar o conceito da Necropolítica (Achille Mbembe), que é o uso do poder social e político para ditar como algumas pessoas devem viver e como algumas pessoas devem morrer.

A violência simbólica é nefasta, pois determina pelo seu tom de pele, seu endereço, suas condições de vida se você é capaz ou não e se é sujeito de direitos ou não.

Você já ouviu falar sobre a “banalização do mal”? É simplesmente o mal como causa do mal. É a naturalização  e a internalização da maldade.

Num país, construído em cima das violências, a herança cultural das desigualdades sociais e impunidades sedimentaram e  naturalizaram  a violência, legitimando a escravidão, tendo o outro como posse e arraigando o imaginário social e coletivo que toda a banalização da vida é possível.

E nestes dias de pandemia, onde o adoecimento físico e mental se faz presente nos lares e nas vidas das pessoas; assim como o desemprego, a dificuldade de  alimentos, à serviços e uma  qualidade de bem estar; ficou mais evidente e para alguns: desesperador.

E nestes dia de flexibilização, onde parece que está tudo normal… Não está normal!

São outros desafios e novos tempos.

A reinvenção é necessária e por isto a nossa atenção deve voltar para não cometermos os mesmos erros. Somos sobreviventes deste novo tempo!

A Valorização do ser humano, a garantia e a promoção dos direitos em busca de uma vida de dignidade, de bem viver, de qualidade de vida, do desenvolvimento do indivíduo e do coletivo, do acesso aos direitos com serviços eficientes e eficazes e a prática de uma cidadania ativa; deve ser o início da mitigação destas injustiças em favor dos determinantes sociais para uma cidadania plena.

Vamos fazer o exercício proposto por José Saramago e “… sair da ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.”

Por Elizabeth Campos

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