Sessões Literárias de Manguinhos

As Sessões Literárias de Manguinhos, como atividade do Ecomuseu de Manguinhos, tem como objetivo desenvolver o direito à fruição literária em um território de favela. Sendo ocasião para o debate livre e produção da crítica literária por parte de seus moradores, leitores não especializados, sobre obras ficcionais, poéticas ou ensaísticas.

Nas últimas cinco edições, durante o mês de setembro, foram trabalhados nas Sessões Literárias os textos provenientes da Residência Literária Favelofágica 2021, no qual as escritas e os escritores construíram romances.  Foi uma experiência potente de trocas entre leitoras e leitores, autoras e autores, a partir da leitura de fragmentos de suas obras ficcionais – ainda em construção.

Sessão entre a autor Daniel Brazil e os leitores participantes

Com uma proposta de escrita comprometida com a vida, característica principal de autoras e autores de uma “literatura contestadora”, o fio condutor que permeia as múltiplas vozes dessa vivência é a identificação com questões próprias à negritude e à classe trabalhadora, não mais pelo crivo da chaga negativa com a qual comumente é atribuído à população mais empobrecida economicamente.

Muito pelo contrário,  aqui a mudança de semântica passa por ressignificar a imagem, desconstruindo as esteriotipias, para forjar, literariamente, uma realidade que não costuma ser contada/narrada. Como podemos apreciar, por exemplo, na força poética da canção de Emicida: “A merendeira desce o ônibus sai. Dona Maria já se foi. Só depois é que o sol nasce, De madruga que as aranha desce no breu, E amantes ofegantes vão pro mundo de Morfeu. E o sol, só vem depois”.

Sessão entre a autora Janaína Abílio e os leitores participantes

Na experiência do encontro dos leitores com os autores dos romances favelofágicos, boa parte dos debates rondaram sobre jamais negar a árdua luta de quem madruga pra ganhar o pão de cada dia. Mas sim demonstrar que personagens reais tanto na vida real quanto na ficção podem e precisam dialogar com sonhos e esperanças necessários em contextos e cenários de extrema desigualdade social, com a qual ainda vivemos em diferentes perímetros citadinos, e que nos assola a todos enquanto triste projeto de sociedade.

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